Há sujeitos que idealizam as suas fantasias em relação ao outro, depositando nele a felicidade, idealizada a partir de sua história pessoal, de suas experiências e da maneira de interpretar a vida.
Após algum tempo de convivência, manifesta-se a surpresa por descobrir que o outro também tem história dele, passou por suas experiências e possui sua própria maneira de interpretar as relações interpessoais.
Pensava-se matematicamente nas “metades da laranja”, como se diz. Mas, a vida é muito mais rica, porque possibilita ajustes e reajustes. A riqueza da vida em comum não se dá pela coincidência, exatidão de gostos e de pontos de vista. Pode até acontecer isso, mas a experiência de vida em comum enriquece a atenção, o amor-próprio, ensina a lidar com as diferenças, reconhece que o outro está pensando mais adequadamente sobre um assunto, revê e convive buscando a harmonia.
Quando ocorre uma idealização em que o outro deve suprir uma falta, algo insaciável, surgem as decepções e a necessidade de tratamento, isso porque está dentro de cada sujeito as respostas em relação ao outro, que tanto procura. Nestes casos, a relação é consigo mesmo, sendo o outro objeto de idealização que favorece o sofrimento pela decepção e propiciando campo ideal para relações abusivas.