Numa crise emocional, quando a dor se torna insuportável, as pessoas buscam primeiramente alguém próximo com a intenção de comentar o que se passa. Nesses momentos a escuta é fundamental.
Rubem Alves, num de seus textos, comentou sobre a necessidade de um “curso de escutatória”, ao invés de um curso de oratória, porque muita gente quer falar, mas “ninguém quer aprender a ouvir”. Além disso, a intensa preocupação em aconselhar é geralmente excludente de uma boa escuta porque, enquanto se elabora o que se pretende falar, deixa-se de escutar o outro, ouvindo-se apenas algumas poucas palavras, presumindo-se haver compreendido o todo. Nesses casos, após o conselho amigo, não é raro a pessoa que sofre se ver incompreendida e expressar um olhar perdido. Então, a escuta deve nortear o momento. Cabe atenção e acolhimento.
Lembrar-se que geralmente o sofrimento se torna o centro, em torno do qual gravitam os
pensamentos, e uma atitude generosa pode atenuar essa dor. O ato de escutar, atento, em silêncio, com o desejo de acolher e compreender pode levar um conselho bem intencionado a um plano de irrelevância. Há situações em que, além do conforto por se sentir compreendida, ao organizar seus próprios pensamentos para verbalizar seu sofrimento, a pessoa descobre muitas respostas em si mesma.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News edição n°1566