Na psicanálise kleiniana a interpretação das experiências pelo bebê é denominada fantasia. A fantasia é criada pelo bebê a partir de estruturas biológicas e segue o curso de suas percepções de agressividade ou acolhimento. São oposições que dependem de um esquema de funcionamento primitivo de interpretação. Portanto, na psicanálise kleiniana, o papel de mãe é secundário, uma vez que prevalece a fantasia do bebê.
Então, a mãe irá intensificar a interpretação emocional da experiência, realizada por ele. Se ele se sentir desamparado, por uma breve ausência de tempo, isso pode ser interpretado como abandono por um bebê e para outro pode não assumir essa magnitude. Quando alguém afirma que a psicanálise atribui a culpa à mãe, na verdade é um pensamento equivocado, muito distante do trabalho psicanalítico. Mas, então, o que ocorre durante a análise? Tenta-se recuperar o passado?
Nesse sentido, Thomas Ogden, psicanalista da contemporaneidade, destaca que, numa análise, o passado é irrecuperável, mas é justamente a interpretação desse passado, a partir do simbólico que está presente nas sessões é que torna possível, com as técnicas psicanalíticas e a intersubjetividade, o sujeito ver-se implicado nas suas escolhas para conseguir realizar mudanças.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1604