Há um pensamento equivocado no mundo ocidental de que o silêncio é como um vazio. Algo que deve ser preenchido com aquisições de coisas ou serviços. É como se o silêncio fosse um grito interior, insuportável, vindo do mundo interno desse sujeito, provocando a necessidade de distração para evitar se deparar consigo mesmo.
Esse sujeito vive apaixonado pelo mundo externo, todavia, distante de si, associando a construção de uma felicidade a algo que somente as distrações são capazes de proporcionar de modo a aplacar o inconsciente que insiste em se manifestar. Esse distanciamento do mundo interno provoca a necessidade de momentos felizes, apoiado na contemporaneidade nas redes sociais.
Em alguns momentos, o sujeito, esgotado, descobre que sua insistência nos modelos que o deslumbram também o afastam das suas questões. O silêncio que estamos falando não é em relação ao outro, mas em relação a si
mesmo.
Nada fácil, principalmente pelo fato da rejeição ao silêncio estar associada a mecanismo de defesa do ego, que impossibilita ao sujeito elaborar indagações endereçadas a seu mundo interno. Suas dúvidas são soterradas por certezas encobridoras, justificadas na sociedade de consumo. A psicanálise tem como propósito descortinar para esse sujeito a sua maneira de interpretar a si mesmo, de modo a ver-se implicado nas escolhas e nas repetições de suas escolhas.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1617