Diante dos quadros atuais, o luto pelas diversas perdas – familiar, amigo, emprego – temos que pensar sobre a tristeza enquanto patologia, uma tendência equivocada da contemporaneidade. Há um mito na sociedade de que a pessoa deve estar incessantemente feliz e, se a felicidade não ocupa seu espaço no cotidiano, de maneira continua, então o sujeito está com uma anomalia.
Surgem, então, os conselheiros e juízes da vida alheia, comentando: “apague esse luto da sua vida, busque as redes sociais, isso não leva a nada”. Se morreu o marido, ou a esposa, ou um filho, dizem: “vá a uma festa, viva, apague as fotos e vídeos do seu celular”. A sociedade se constituiu de maneira a não deixar espaço para o sujeito sentir tristeza.
Nas redes sociais surgem as fórmulas de como as pessoas saíram de seus lutos, rapidamente e vitoriosas, de maneira indolor, e a felicidade é cultuada como uma obrigação. Conselheiros de plantão afirmam possuir um conhecimento para resolver a dor do outro, fórmulas adequadas para uma “doença” denominada tristeza.
Entretanto, a tristeza não deve ser submetida ao quadro de patologias, porque faz parte da vida e integra o desenvolvimento do sujeito lidar com suas dores. Aplacar a tristeza do outro com os recursos decorrentes dessa patologização é uma violência. Escutar em silêncio e acolher propicia ao outro passar pelo desfiladeiro da tristeza.
Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1614