Somente o sujeito pode dizer como se sente

Diante da desorganização do mundo interno, por conta de um luto ou doença, o sujeito busca auxílio nas diversas possibilidades que encontra. Um exemplo são obras escritas, que parecem ajudar, porque o sujeito pode se identificar com fatos narrados. Todavia,
durante uma análise uma obra escrita pode favorecer o autoconhecimento, aliás, a arte de modo em geral, principalmente para o sujeito questionar-se sobre algumas das suas resistências no percurso analítico. O que se encontra registrado nessas obras são estudos de caso ou descrição de processos que podem ser narrados por qualquer um, conforme a teoria abraçada pelo autor.

Todavia, é na intersubjetividade que o tratamento analítico ocorre, por  favorecer o sujeito narrador de si, compreender que diante da desorganização de seu mundo interno pode estar idealizando algo distante de suas possibilidades, impraticável, negando aspectos importantes da realidade.

Uma análise não possui a finitude de um último capítulo de uma obra escrita, algo semelhante a um manual, tipo pegue e faça. A maneira como o sujeito interpreta seus caminhos é o que importa, favorece mudanças, traz luz sobre a própria existência. Somente o sujeito consegue falar como se sente em relação às suas experiências e isso o torna único, distante de um ideal produzido pela sociedade de consumo.

Dr. João Palma Filho
Psicólogo – CRP 146.528
Matéria publicada no jornal Regional News, edição n°1600

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